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por Permian Brasil

22/07/2025

O painel “Mídias e jornalismo sob uma leitura crítica”, terceiro bloco do webinar COP30: Floresta Amazônica, Soluções Climáticas, Desafios e Oportunidades, reuniu jornalistas especializados para discutir como aprimorar a comunicação sobre sustentabilidade e mudanças climáticas no Brasil.

Alexandre Mansur, veterano jornalista de ciência e meio ambiente, trouxe análises baseadas em dados sobre as principais fontes de emissões brasileiras. Durante sua apresentação, Mansur demonstrou como o jornalismo pode utilizar informações científicas precisas para orientar o debate público. “Precisamos garantir que estamos comunicando as informações mais relevantes para orientar decisões públicas e privadas. A responsabilidade do jornalismo vai além de informar – precisamos educar e contextualizar”, enfatizou.

O especialista apresentou dados reveladores sobre a pecuária brasileira, demonstrando como este setor representa a maior fonte individual de emissões de gases de efeito estufa no país. Utilizando gráficos e estudos recentes, Mansur ilustrou a importância de priorizar adequadamente os temas na cobertura jornalística, questionando se a mídia tem dado o peso correto às diferentes fontes de emissão.

 

Desafios da Comunicação Técnica

O painel explorou estratégias para comunicar a complexidade dos sistemas ambientais de forma acessível ao público geral. Mansur apresentou estudos do projeto Amazônia 2030 que demonstram como o desmatamento já está causando perdas bilionárias em usinas hidrelétricas como Itaipu e Belo Monte. Estes dados ilustram conexões que nem sempre ficam claras na cobertura tradicional, mostrando como eventos aparentemente distantes estão interconectados.

“Quando falamos de preservação florestal, geralmente pensamos em povos indígenas e ribeirinhos. Mas quem realmente depende das florestas somos todos nós, especialmente setores que hoje colocam essas florestas em risco”, explicou Mansur, destacando como o jornalismo pode revelar interdependências complexas de forma compreensível.

Sérgio Teixeira, jornalista especializado em mercados ambientais e colaborador do Reset, abordou os desafios específicos de reportar sobre mercados emergentes como créditos de carbono. Teixeira trouxe sua experiência cobrindo negociações climáticas internacionais e participação em eventos preparatórios da COP para ilustrar como traduzir complexidades técnicas em narrativas acessíveis.

“Nossa responsabilidade é explicar tanto as oportunidades quanto as limitações dessas ferramentas. O crédito de carbono não é uma solução mágica, mas pode ser um catalisador importante para transformações necessárias. Como jornalistas, precisamos evitar tanto o otimismo excessivo quanto o pessimismo paralisante”, destacou Teixeira.

 

Rastreabilidade e Transparência

Uma parte significativa do debate focou nos desafios de comunicar questões de rastreabilidade na cadeia pecuária. Teixeira explicou como frigoríficos alegam controlar mais de 90% dos fornecedores, mas este controle se refere apenas às fazendas onde o animal passa os últimos três meses de vida. “O desafio jornalístico é explicar por que essa lacuna de 90% do tempo de vida do animal representa um problema real para garantias ambientais”, observou.

Os participantes discutiram como o jornalismo pode contribuir para aumentar a pressão por transparência, sem simplificar excessivamente questões técnicas complexas. A discussão incluiu reflexões sobre como reportar desenvolvimentos em tecnologias de monitoramento por satélite e sistemas de rastreamento digital.

 

Transformação Cultural e Temporal

O painel abordou uma das questões mais desafiadoras para o jornalismo ambiental: como comunicar a urgência das mudanças climáticas respeitando o tempo necessário para transformações culturais e econômicas. Miguel Milano, mediador do evento e engenheiro florestal com longa experiência acadêmica, compartilhou reflexões pessoais sobre testemunhar o desaparecimento da Mata de Araucárias no Paraná durante sua infância.

“O tempo da mudança é difícil para as pessoas e para as culturas. Como comunicadores, precisamos equilibrar a urgência real dos problemas com o realismo sobre os processos de transformação”, observou Teixeira, citando o podcast “Indignação e Otimismo” de Christiana Figueres como exemplo de abordagem equilibrada.

 

Agricultura Regenerativa e Novas Narrativas

Mansur apresentou iniciativas como a Frente Brasileira pela Regeneração da Agricultura (FERA), demonstrando como o jornalismo pode destacar soluções inovadoras. A discussão explorou como comunicar conceitos como agricultura regenerativa de forma que inspire ação sem criar expectativas irreais.

“Nosso insumo mais importante não é o fertilizante que vem da Rússia, é a chuva que vem da floresta”, exemplificou Mansur, mostrando como metáforas simples podem comunicar relações complexas entre sistemas naturais e econômicos.

 

Mercados de Carbono e Comunicação Responsável

O debate incluiu análises detalhadas sobre como reportar mercados de carbono de forma responsável. Teixeira explicou as diferenças entre mercados regulados e voluntários, destacando como metodologias nacionais ainda estão em desenvolvimento para o setor pecuário brasileiro.

“Existe uma metodologia nacional que ainda não completou todas as etapas do processo de aprovação científica, mas já está no horizonte. Como jornalistas, precisamos acompanhar esses desenvolvimentos sem criar expectativas prematuras”, explicou.

 

Papel da Mídia na COP 30

Com a COP 30 programada para acontecer na Amazônia, o painel ganhou relevância especial ao discutir como a mídia brasileira pode aproveitar esta oportunidade única. Os participantes debateram estratégias para cobrir o evento de forma que destaque tanto desafios quanto oportunidades reais para o desenvolvimento sustentável.

“A COP 30 representa uma chance histórica para o Brasil mostrar liderança real em sustentabilidade. O jornalismo tem papel fundamental em garantir que essa oportunidade se traduza em ações concretas e não apenas em discursos”, concluiu Mansur.

 

Diversidade no Agronegócio

O painel também abordou a importância de evitar generalizações ao reportar sobre o agronegócio brasileiro. Leitão destacou como o termo “agro” pode mascarar uma realidade diversificada, onde produtores sérios convivem com práticas inadequadas.

“Não existe um agro monolítico. Existem muitos produtores, e mesmo entre os que enfrentam desafios ambientais, há muitos que são sérios e já perceberam que sustentabilidade é questão de sobrevivência empresarial”, observou.

 

Assista ao painel completo no YouTube

“Mídias e jornalismo sob uma leitura crítica” está disponível na íntegra no YouTube, oferecendo insights valiosos para comunicadores, jornalistas e profissionais interessados em comunicação climática efetiva. Acesse: https://www.youtube.com/live/IMPwCFz4FHQ?si=VwElCKP126Q5BPkk.

 

 

Leia também o artido de ((O)) Eco sobre o terceiro painel do evento aqui.

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