Crítica recentes ao mecanismo REDD+, amplamente veiculada pela mídia, afrimou que mais de 90% dos créditos de carbono de florestas tropicais não teriam valor, mas as conclusões enganosas se basearam em um novo estudo, sem validação científica, que propôs um novo método para medir ameaças às áreas florestais.
O artigo da mídia se baseou na pesquisa Action needed to make carbon offsets from forest conservation work for climate change mitigation, de West et al. (Link), foi publicado na Science, em 2023, e tem sido usado pelo The Guardian e outros grupos de notícias para fazer campanha contra a importãncia dos créditos de carbono de florestas tropicais na mitigação do clima. O artigo apresentou um novo método para estimar taxas de desmatamento contrafactuais (ou seja, a taxa de desmatamento que teria ocorrido se um projetos não tivesse sido implementado)1.
Embora a nova abordagem tenha o potencial de ajudar a melhorar a precisão geral da linha de base para alguns projetos, ela precisa ser refinada e validada para garantir que melhore as metodologias existentes. Ao contrário das conclusões divulgadas por alguns jornalistas, o novo método ainda não demonstrou uma melhoria em relação aos métodos atuais usados para validação de projetos de REDD+.
Especialistas em carbono florestal das Universidades de Aberdeen e Exeter, da Space Intelligence e da Permian Global escreveram uma carta online (Link) em resposta ao artigo, destacando várias das limitações que significam que as conclusões não foram fundamentadas, e outros levantaram preocupações semelhantes (Link). Aqueles que defendem novos métodos têm a responsabilidade de validar qualquer afirmação de que uma nova abordagem é melhor do que as existentes, e os desenvolvedores de projetos de REDD+ devem usar uma combinação de abordagens de práticas recomendadas. Essa é a vanguarda da pesquisa aplicada.
Leia a carta online aqui (PDF).
Apesar dessas limitações, muitas pessoas usaram as conclusões do documento para inferir avaliações negativas sobre a maioria dos projetos de REDD+. Isso transmitiu ao público uma imagem imprecisa da credibilidade de todos os projetos e, como resultado, levantou dúvidas sobre a integridade das reduções de emissões atribuídas aos créditos que eles geram.
É essencial que os créditos de projetos que não atendam a padrões científicos sólidos não sejam usados para compensar, reduzir ou remover emissões. Ao mesmo tempo, há muitos projetos de conservação florestal de alta qualidade que estão proporcionando benefícios significativos em termos de clima (Link), biodiversidade (Link) e comunidade (Link). É fundamental que os projetos que são rigorosamente avaliados como eficazes, de acordo com vários critérios, continuem a ser valorizados e apoiados.
“A mídia desempenha um papel fundamental no escrutínio da responsabilidade dos projetos que buscam mitigar as mudanças climáticas, pois precisamos garantir que os projetos cumpram suas promessas. O novo método de controle sintético pode ajudar a melhorar a precisão dos cenários de desmatamento na ausência do projeto, mas antes que as conclusões possam ser confiáveis o suficiente para sua implantação, o método precisa, primeiro, ser refinado para levar em conta os fatores que julgamos importantes e também ser devidamente validado.” Dr. Andrew Cunliffe, Universidade de Exeter.
“Os projetos que contribuem para o mercado voluntário de carbono são altamente diversificados e muitos alavancam cobenefícios importantes para os meios de subsistência das comunidades locais e para a biodiversidade. Esses resultados positivos para pessoas, natureza e clima podem ser colocados em risco se as preocupações com os métodos de contabilidade de carbono que ainda estão em estágio inicial de desenvolvimento minarem a credibilidade de todo o mercado. Os métodos melhoram com o tempo em resposta à pesquisa; os debates acadêmicos em torno desses refinamentos não devem ser interpretados como evidência de que todos os projetos de carbono e os mecanismos de financiamento subjacentes são inerentemente falhos.” Professor David Burslem, Universidade de Aberdeen.
Publicado inicialmente no site da Permian Global em 09 de janeiro de 2024. Confira o artigo original em inglês.
1 N.T. Métodos contrafactuais são usados para avaliar o impacto ambiental ao comparar áreas manejadas (positivamente ou negativamente) com áreas de controle mantidas inalteradas. É o que poderia ter sido, mas não foi, ou sjea, o desmatamento normal que a área vinha sofrendo sem o projeto.