BACK TO NEWS
Permian-Logo

por Permian Brasil

22/10/2024

A visão da ciência é fundamental no momento em que as mudanças climáticas se consolidaram como um dos maiores desafios globais do século XXI. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC – Link), até o fim do século, o mundo segue uma trajetória de aquecimento entre 4,3°C (com a manutenção do ritmo de emissões atuais) e 2,8°C (com rigorosa implementação de controles). Esses valores vão muito além do limite de 1,5ºC de aumento estabelecido pelo Acordo de Paris.

Na Conferência Brasileira Clima & Carbono 2024 (Link), o professor Paulo Eduardo Artaxo, do Instituto de Física da USP, apresentou os dados mais recentes da ciência sobre a crise climática. No painel “A Mitigação da Mudança do Clima e as Soluções Baseadas na Natureza: O que diz a Ciência?”, ele trouxe números e reflexões que dão luz ao panorama, cuja base havia sido apresentada cerca de um mês antes para representantes dos Três Poderes (Link). O objetivo deste artigo é compartilhar as constatações e previsões expostas pelo cientista durante o evento.

 

O Impacto para o Brasil

O Brasil – assim como os demais países tropicais – é mais vulnerável aos impactos das mudanças climáticas: sua temperatura pode subir até 1ºC acima da média global; sua área costeira de 8.500 quilômetros pode ser invadida pelo aumento de até 1,5 metro do nível do mar. Outra mudança crítica é em relação ao mapa das chuvas, que se concentra no Sul e Sudeste e causa secas no Norte e Nordeste. Finalmente, há a queda da biodiversidade – principalmente de polinizadores – cujo maior motor são as mudanças climáticas.

As concentrações de Gases de Efeito Estufa (GEEs) na atmosfera aumentam continuamente, tendo atingido 62 bilhões de toneladas anuais. De acordo com o Emissions Gap Report 2023, elaborado pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) (Link), o Brasil é o 4º maior emissor per capita, e o 7º maior em emissões totais de GEEs, sendo 48% dessas emissões provenientes do desmatamento e 27% da agropecuária.

 

O papel da Amazônia

Conforme exposto pelo professor, há um risco de colapso de sistemas de resfriamento da Terra como florestas, capas polares e correntes marítimas. Atualmente, a Amazônia tem perdido seu carbono estocado através do desmatamento e, principalmente, da degradação causada por estresse hídrico e térmico, o que prejudica a sua capacidade de fotossíntese. Trata-se de um ciclo vicioso: o déficit hídrico na Amazônia favorece queimadas e degradação, que por sua vez contribuem para emissão de GEEs e para o aquecimento global, o que culmina em mais déficit hídrico e estresse térmico para a floresta.

É um caminhar acelerado ao ponto de não retorno da Amazônia (também conhecido como tipping point), que poderia liberar na atmosfera 120 bilhões de toneladas de CO2 armazenadas. Isso agravaria ainda mais o aquecimento global. Ou seja, o colapso da Amazônia representaria, aproximadamente, a soma de todas as emissões mundiais ao longo de dois anos. Segundo Artaxo, o risco do colapso da Floresta Amazônica – um resfriador natural muito importante – é real. Trabalhos acadêmicos recentes indicam, segundo o cientista, que esse evento está previsto para até 2050.

Para diminuir a degradação da Amazônia, e impedí-la de atingir um ponto de não retorno ecológico, há uma necessidade premente de zerar o desmatamento, tanto legal quanto ilegal, assim como a exploração mineral descontrolada. Outra maneira de proteger a floresta é destinando Terras Indígenas, Unidades de Conservação e florestas públicas não designadas – 50 milhões de hectares – para a conservação.

Há um enorme potencial de sequestro de carbono que, como cobenefício, geraria renda para uma população, majoritariamente, menos favorecida. Assim, um mercado de carbono robusto (saiba mais) pode contribuir para a erradicação da pobreza – o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 1.

 

Soluções da ciência com apoio da legislação

No Brasil, crimes ambientais são responsáveis por uma parte significativa das emissões de GEE. Conforme salientado pelo professor, 48% das emissões são pelo desmatamento. Ou seja, há uma enorme possibilidade de redução dessas emissões através do combate à essa prática, com um cobenefício da preservação da biodiversidade. Fortalecer a fiscalização e endurecer as penas para crimes ambientais é essencial. A integração entre Polícia Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e órgãos estaduais também é necessária para combater as organizações criminosas envolvidas.

Outra medida importante é impedir a regularização fundiária de áreas queimadas, evitando que terrenos destruídos por incêndios sejam legalizados. Além disso, recursos provenientes de multas ambientais devem ser direcionados para reforçar a infraestrutura de combate a incêndios.

transição energética é um dos pilares para a mitigação das mudanças climáticas. O Brasil deve substituir rapidamente o uso de petróleo, gás natural e carvão por fontes renováveis como energia solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde. São setores com especial potencial no país. Regiões como o Nordeste já se destacam na geração de energia eólica, enquanto a energia solar pode ser amplamente explorada em áreas de alta incidência de luz.

A transição para uma matriz energética limpa não é apenas uma questão ambiental, mas também uma oportunidade econômica. O uso de energia barata e renovável pode reduzir custos de produção e dar ao Brasil uma vantagem competitiva no mercado internacional.

Mesmo com esforços de mitigação, os efeitos das mudanças climáticas já são visíveis e exigem medidas urgentes de adaptação. Por isso, é vital que haja avanços e investimentos em infraestrutura resiliente – como sistemas de drenagem eficientes, monitoramento de desastres naturais e fortalecimento da Defesa Civil, que deve estar preparada para agir rapidamente em casos de desastres naturais, como enchentes e incêndios florestais.

Além disso, é fundamental desenvolver planos de adaptação regionalizados. Regiões como o Sul, que enfrentam chuvas intensas, e o Nordeste, que lida com secas prolongadas, precisam de soluções específicas para suas necessidades. O engajamento das comunidades locais e a integração com agentes comunitários de saúde podem garantir que as populações mais vulneráveis estejam preparadas para lidar com esses eventos extremos.

Instituições como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) precisam ser reforçadas com recursos humanos e financeiros. A integração entre governos federal, estadual e municipal também é necessária para garantir uma gestão eficiente das emergências climáticas.

Investir em pesquisa científica é essencial para encontrar soluções inovadoras para a crise climática. A ciência de adaptação e mitigação deve ser uma prioridade, com foco no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e no aprimoramento de modelos climáticos.

Programas de cooperação entre universidades, setor privado e governo podem acelerar a criação de novas tecnologias, como métodos de captura de carbono e energia limpa. A formação de pesquisadores especializados é essencial para que o Brasil tenha capacidade técnica para liderar a transição para uma economia sustentável.

O fortalecimento das instituições ambientais e o investimento contínuo em ciência e inovação são fundamentais para que o Brasil se destaque como líder na agenda climática global. Ao implementar essas medidas, o país poderá não apenas cumprir suas responsabilidades ambientais, mas também conquistar uma vantagem competitiva no cenário internacional, consolidando-se como uma economia verde e sustentável.

O enfrentamento da crise climática representa não apenas um desafio urgente para o Brasil, mas também uma oportunidade histórica de transformação. Ao combinar o combate ao desmatamento, a transição energética, o fortalecimento institucional e o investimento em ciência e tecnologia, o país tem todas as condições de se tornar protagonista global na economia verde.

Este momento exige uma ação coordenada e decisiva entre governo, setor privado, academia e sociedade civil, pois apenas através de um esforço conjunto será possível construir um futuro sustentável que garanta tanto a preservação dos nossos ecossistemas quanto o desenvolvimento econômico e social. O caminho está traçado pela ciência – resta agora transformar esse conhecimento em ações concretas que assegurem às próximas gerações um planeta habitável e próspero.

CATEGORIAS:
COMPARTILHE: