Um estudo publicado na revista Frontiers in Forests and Global Change (aqui) demonstra que florestas diversas, compostas por múltiplas espécies arbóreas, apresentam uma eficácia até 70% superior no armazenamento de carbono quando comparadas às monoculturas florestais, evidenciando seu papel estratégico no enfrentamento das mudanças climáticas e sua importância como um dos focos para o financiamento climático.
Segundo o estudo, a superioridade das florestas diversas no sequestro de carbono está diretamente relacionada à complementaridade entre as diferentes espécies que as compõem. Esta característica confere maior resiliência ao ecossistema, tornando-o mais resistente a perturbações como pragas, doenças e eventos climáticos extremos. Como resultado, estas florestas não apenas retêm mais carbono, mas também o mantêm armazenado por períodos mais longos em suas estruturas – solo, arbustos e árvores – contribuindo de forma mais efetiva para a redução do dióxido de carbono atmosférico.
Outra constatação para além da capacidade superior de armazenamento de carbono;, as florestas diversas proporcionam benefícios ecossistêmicos adicionais que reforçam sua importância ambiental. Estes incluem a proteção dos recursos hídricos, a conservação do solo e a manutenção de níveis elevados de biodiversidade. Assim, este conjunto de atributos posiciona as florestas diversas como elementos fundamentais nas estratégias de restauração florestal e nas políticas de mitigação das mudanças climáticas, representando uma solução natural mais eficiente e sustentável para o desafio climático global.
Ainda segundo o estudo, vale destacar que o exemplo mais notável de floresta diversa é a floresta amazônica, que apresenta uma biodiversidade extraordinária que ainda não foi totalmente descoberta. De acordo com artigo da National Geographic Brasil (aqui), o bioma abriga, em uma estimativa conservadora, 1.300 espécies de aves, 3.000 de peixes, 400 de mamíferos, cerca de 400 répteis e anfíbios, mais de mil invertebrados e algo em torno de 40 mil espécies vegetais. Além disso, há diversos ecossistemas dentro da própria Amazônia – incluindo regiões campestres, áreas alagadas, restingas, igapós, mangues e floresta de terra firme.
Neste contexto, iniciativas como o Projeto de Conservação da Reserva Extrativista do Rio Cautário (aqui), que promovem a proteção territorial, da floresta e da biodiversidade, através do fomento da sociobioeconomia junto às comunidades locais, são fundamentais para manter esse ecossistema vivo, protegendo-o de desmatamento, degradação e queimadas e fornecendo capacitação e condições financeiras para o desenvolvimento sustentável de comunidades locais, que atuam como guardiãs da floresta.
A preservação florestal, quando analisada sob a ótica do financiamento climático, apresenta uma característica singular: gera benefícios simultâneos de mitigação e adaptação. O setor AFOLU possui posição estratégica para oferecer retornos em produtividade, renda e resiliência climática. Entretanto, o volume limitado de investimentos reflete os altos riscos que permeiam o setor, especialmente relacionados à sua vulnerabilidade aos impactos físicos das mudanças climáticas.
O financiamento público, embora necessário, não tem sido suficiente para atender às demandas de preservação florestal. As limitações incluem não apenas a escassez de recursos, mas também prioridades nem sempre adequadas e resultados limitados devido à falta de coordenação entre as partes interessadas. Por sua vez, o financiamento privado, que poderia complementar estas lacunas, encontra barreiras significativas, como a falta de incentivos financeiros adequados e incertezas regulatórias.
Para ampliar a efetividade do financiamento na preservação florestal, torna-se fundamental desenvolver mecanismos financeiros inovadores e garantir avaliações transparentes e coordenadas dos projetos. A implementação de soluções deve incorporar especificidades locais, reconhecendo que o setor florestal constitui um dos pilares de diversas economias em desenvolvimento.
As externalidades positivas da preservação florestal merecem destaque especial no contexto do financiamento climático. Os investimentos no setor AFOLU podem contribuir significativamente para a melhoria da biodiversidade e gerar benefícios socioeconômicos substanciais.
Assim, o financiamento climático representa uma ferramenta fundamental para manter florestas diversas em pé, mas seu sucesso depende de uma abordagem holística que considere as complexidades do setor florestal e as necessidades específicas dos atores envolvidos. A transformação do cenário atual requer não apenas mais recursos, mas também mecanismos financeiros mais eficientes e adaptados às realidades locais.