Uma pesquisa global, liderada pela Universidade de Bonn, na Alemanha, revelou um dado surpreendente: 89% da população mundial deseja que seus governos adotem medidas mais fortes para combater a crise do clima. O número foi obtido através de um levantamento com 130.000 pessoas em 125 países, que representam 96% das emissões globais de carbono.
O estudo, publicado na revista Nature Climate Change (aqui), apresenta uma realidade que poucos imaginavam: existe uma maioria absoluta favorável à ação climática. O mais intrigante é que essa maioria permanece silenciosa devido a uma percepção equivocada. As pessoas acreditam, erroneamente, que são minoria em suas opiniões pró-clima. Essa “espiral do silêncio” ocorre porque indivíduos subestimam significativamente o apoio de seus pares às iniciativas climáticas.
Quando questionados se contribuiriam com 1% de sua renda mensal para combater o aquecimento global, 69% dos entrevistados responderam afirmativamente. No entanto, esses mesmos indivíduos estimaram que apenas 43% de seus compatriotas fariam o mesmo. Em alguns países, a diferença entre percepção e realidade chegou a 40%.
Esta descoberta, segundo o mesmo estudo, representa uma oportunidade extraordinária para o mercado de carbono como mecanismo de financiamento climático. Para os pesquisadores, corrigir essa percepção equivocada poderia desencadear um ponto de inflexão social, impulsionando líderes a implementarem as ações climáticas tão necessárias e urgentes. Informar as pessoas de que suas visões pró-clima são amplamente compartilhadas pode ser uma intervenção poderosa e de baixo custo.
Mais constatações da pesquisa:
A China, maior emissor mundial, demonstrou um dos níveis mais elevados de preocupação: 97% dos chineses acreditam que seu governo deveria fazer mais para combater as mudanças climáticas, e 80% estão dispostos a contribuir com 1% de sua renda.
Os Estados Unidos, segundo maior emissor, apresentou números menos expressivos, mas ainda significativos: 74% dos americanos desejam mais ação governamental e 48% estão dispostos a contribuir financeiramente.
Na América do Sul, de acordo com detalhamento do The Guardian (aqui), o Brasil apresenta 95% da população pró maior ação do governo, e 67% dispostos a contribuírem com 1% de sua renda. São valor próximos a outros países como Argentina (93% / 62%), Uruguai (90,1% / 66%), Chile (98,2% / 65%) e Paraguai (96,1% / 86%).
O fenômeno transcende fronteiras geográficas e políticas. Pesquisas adicionais confirmam esse apoio majoritário em diversos contextos. A Votação Climática Popular da ONU em 2024, que entrevistou 75.000 pessoas representando 90% da população global, constatou que 80% desejavam que seus países fortalecessem seus compromissos climáticos.
As pessoas também estão abertas à cooperação internacional. Um dado revelador mostrou que 86% dos entrevistados acreditam que os países deveriam deixar de lado suas diferenças em outros assuntos para trabalharem juntos na questão climática. Essa quase unanimidade representa um potencial inexplorado para o mercado de carbono.
A pesquisa indica que as pessoas são “cooperadoras condicionais” – mais propensas a contribuir para o bem público se acreditarem que outros estão fazendo o mesmo. Diversos estudos demonstraram que informar as pessoas sobre a popularidade da ação ambiental pode aumentar suas próprias ações, como economia de energia e vida sustentável.
O alto nível de engajamento revelado por esta pesquisa representa uma oportunidade extraordinária para projetos integrados que contribuem simultaneamente para o clima, a biodiversidade e as comunidades locais. Ao revelar que a maioria das pessoas em todo o mundo já está disposta a agir, abre-se caminho para iniciativas que vão além da simples compensação de carbono, criando valor compartilhado através de soluções baseadas na natureza, proteção de ecossistemas e desenvolvimento comunitário. Um exemplo é o Projeto de Conservação da Natureza da RESEX do Rio Cautário (aqui).
Esta realidade oferece um cenário favorável para que o mercado de carbono evolua para uma abordagem mais holística e transformadora, capaz de gerar benefícios ambientais e sociais duradouros enquanto responde ao desejo evidente da população mundial por ações climáticas efetivas.