Ao longo dos últimos 20 anos, tive o privilégio de trabalhar ao lado de Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICLs), cocriando projetos de conservação que não apenas protegem a biodiversidade, mas também melhoram o bem-estar das comunidades. Por meio dessas experiências, tornou-se inquestionavelmente claro que os esforços de conservação devem integrar dimensões sociais para serem verdadeiramente eficazes (saiba mais). A conservação não é apenas sobre preservar a natureza; é sobre respeitar e valorizar as pessoas que têm sido suas guardiãs por gerações.
O vínculo entre pessoas e natureza é profundo. Para muitas comunidades indígenas, a natureza não é um recurso a ser explorado, mas um parente, uma fonte de vida e um alicerce da identidade cultural. O conhecimento ecológico tradicional, transmitido através de gerações, oferece percepções inestimáveis sobre práticas sustentáveis das quais os esforços modernos de conservação podem aprender.
Contudo, reconhecer essa relação vai além de apreciar práticas tradicionais; exige um compromisso com direitos e justiça. Respeitar o Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI) e defender os direitos dos Povos Indígenas são passos essenciais em direção à conservação ética. Quando as comunidades são capacitadas para cuidar de suas terras, os resultados de conservação são mais fortes, mais duradouros e mais equitativos.
As ciências sociais fornecem ferramentas fundamentais para compreender o comportamento humano, motivações, sistemas de governança, contextos culturais e os fatores socioeconômicos que impactam o meio ambiente. Ao recorrer a disciplinas como antropologia, sociologia, economia e ciência política, os conservacionistas podem obter uma visão holística das complexas interações entre humanos e natureza que moldam os resultados ecológicos.
Um aspecto crucial das ciências sociais na conservação é sua ênfase em pesquisas que exploram crenças, valores e experiências vividas das pessoas. Compreender o que as motiva a se engajar (ou resistir) em comportamentos de conservação – como adotar uso sustentável da terra ou proteger espécies – é essencial. Igualmente importante é identificar as barreiras que impedem comportamentos desejados, sejam elas culturais, econômicas ou institucionais. As ciências sociais ajudam a descobrir essas dimensões e adaptar estratégias que ressoem profundamente com os contextos comunitários.
Métodos de pesquisa qualitativa – como observação participante, entrevistas em profundidade e grupos focais – desempenham um papel fundamental em descobrir percepções detalhadas sobre como as comunidades se relacionam com a natureza. Essas ferramentas fornecem uma abordagem empática e sensível ao contexto que pode revelar contradições, tensões ou oportunidades que podem ser negligenciadas por abordagens puramente quantitativas. Observar como as comunidades interagem com seus ambientes no dia a dia frequentemente produz compreensões valiosas que informam um planejamento de conservação mais eficaz e respeitoso.
Cultura e prática também estão no centro do sucesso da conservação. Reconhecer como tradições, rituais e leis consuetudinárias influenciam o manejo ambiental permite que os profissionais alinhem os esforços de conservação com estruturas existentes de administração. Em vez de impor soluções externas, as ciências sociais nos encorajam a trabalhar em consonância com a cultura local, promovendo resultados mais sólidos e duradouros.
Por meio da cocriação de projetos de conservação com Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICLs), aprendemos que o sucesso está profundamente ligado a quão bem as iniciativas ressoam com as realidades locais. Os projetos devem ser adaptados, flexíveis e baseados no respeito mútuo. Além disso, o sucesso deve ser medido não apenas em termos biológicos, mas também por melhorias no bem-estar comunitário, empoderamento e resiliência.
Refletindo sobre duas décadas de experiência, as lições mais poderosas vêm de histórias de parceria, perseverança e aprendizado compartilhado. Ao longo da minha jornada, tive a oportunidade de trabalhar com organizações e comunidades inspiradoras que moldaram minha compreensão da conservação.
Na Rare, concentrei-me em abordagens de marketing social para compreender comportamentos, motivações e barreiras das pessoas para ação de conservação. Por meio de campanhas direcionadas, desenvolvemos estratégias que respondiam diretamente aos valores e aspirações comunitários, reduzindo com sucesso ameaças à biodiversidade enquanto fortalecíamos a administração local.
Com a BirdLife International, trabalhei para envolver a sociedade civil em iniciativas de ciência cidadã, capacitando comunidades a participar de esforços de conservação de aves. Essa abordagem participativa não apenas gerou dados científicos valiosos, mas também fomentou um profundo senso de orgulho e pertencimento na proteção da biodiversidade aviária local.
Atualmente, na Permian Global, lidero iniciativas de pesquisa socioeconômica que informam o desenho dos componentes comunitários de projetos REDD+. Trabalhando estreitamente com comunidades indígenas e locais que vivem dentro e ao redor das áreas de projeto, estamos criando iniciativas que não apenas mitigam as mudanças climáticas, mas também constroem resiliência, asseguram direitos e promovem administração autêntica de paisagens de conservação.
A verdadeira administração emerge quando as comunidades não são apenas participantes, mas líderes nos esforços de conservação. Empoderar vozes locais promove um senso de pertencimento e orgulho que nenhuma abordagem vertical pode replicar. A ética deve guiar cada passo do trabalho de conservação. A conservação inclusiva e baseada em direitos não é apenas moralmente correta; é praticamente eficaz. Quando as iniciativas de conservação respeitam a cultura, promovem justiça e nutrem a liderança comunitária, elas produzem impactos profundos tanto na biodiversidade quanto no bem-estar humano.
A ligação entre ciências sociais e conservação não é opcional; é essencial. Para proteger a natureza, devemos primeiro compreender e valorizar as pessoas que vivem mais próximas a ela. Ao abraçar abordagens baseadas em direitos e centradas na comunidade, podemos cocriar um futuro em que tanto a natureza quanto as pessoas prosperem juntas. O caminho à frente é claro: a conservação deve ser tanto sobre pessoas quanto sobre o planeta.
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Por Itala Yépez, Diretora de Estratégia Comunitária
Este artigo foi originalmente publicado no blog da Permian Global em 2 de maio de 2025. Convidamos você a ler o texto original em inglês aqui.