Nas profundas florestas da América do Sul, um pequeno e esquivo canídeo se esgueira, alerta a sons desconhecidos e rápido em evitar sua própria detecção. Amplamente distribuído, mas ainda raramente registrado, o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) ocorre a leste dos Andes, do Panamá até o norte da Argentina em uma variedade de biomas, incluindo Pantanal, Cerrado, a Mata Atlântica e a Amazônia. É razoável perguntar como uma espécie tão amplamente distribuída pode permanecer tão rara.
O cachorro-vinagre é uma espécie de aparência distinta, com pernas tão curtas que quase balança ao caminhar, e patas palmadas como as de uma lontra. Tem pelagem cor castanha que se mistura perfeitamente com as margens lamacentas e a serapilheira de seu habitat. A maioria das pessoas, mesmo aquelas que vivem nas proximidades, nunca viu um – alguns poucos sortudos podem ter um vislumbre quando uma matilha corre ao longo de uma margem de rio ao anoitecer, perseguindo um roedor ou um tatu. Aqueles que conseguem avistá-lo às vezes recordam de seu cheiro característicoque lhe dá o nome.
Com sua morfologia única, o cachorro-vinagre está adaptado para um estilo de vida semiaquático, e apto a utilizar tocas debaixo do solo..
Os cachorros-vinagre são animais sociais e com agrupamentos bastante robustos. Diferentemente da maioria de seus primos caninos, que tipicamente exibem tendências solitárias, os cachorros-vinagre vivem em matilhas coesas de 2 a 12 indivíduos, com reprodução durante todo o ano. A coesão da matilha é mantida através de vocalizações, lembrando seus laços evolutivos estreitos com o mabeco (Lycaon pictus). Quando encurralam uma paca ou espantam um tatu da vegetação rasteira, eles se comunicam com ganidos e latidos agudos, cada membro conhecendo seu papel. Às vezes, eles até conduzem suas presas para a água, onde suas patas palmadas lhes dão vantagem.
Estratégias de caça cooperativa, como flanquear presas ou conduzi-las para a água, permitem que as matilhas enfrentem animais muitas vezes maiores do que eles, incluindo veados, catetos e capivaras.
Embora você talvez nunca veja um, o cachorro-vinagre é um guardião críptico da floresta. Ao manter sob controle os números de roedores e outras espécies, ele ajuda as mudas a sobreviverem e as florestas a se regenerarem.
A espécie é classificada como Quase Ameaçada em suas avaliações da IUCN (última atualização em 2011), mas Vulnerável nas listas nacionais do Brasil, principalmente devido à densidade extremamente baixa, degradação e destruição do habitat em toda sua distribuição, e os crescentes casos de sarna sarcóptica, que foi trazida para o território do cachorro-vinagre por cães domésticos, que também têm tendência a atacá-los. As estratégias de conservação enfatizam a restauração de corredores, controle de caça e campanhas de vacinação para cães domésticos em zonas de amortecimento.
A sobrevivência do cachorro-vinagre depende da mitigação das pressões da ação humana enquanto se preserva a conectividade ecológica em toda sua distribuição.
A Permian Global tem um papel a desempenhar na proteção dos cachorros-vinagre. Nosso Projeto de Conservação da Natureza na Resex do Rio Cautário – um projeto de proteção florestal de 146.400 ha, em pré-validação no sudoeste da Amazônia , no estado brasileiro de Rondônia (saiba mais) – registrou cachorros-vinagre por meio de seu programa de armadilhas fotográficas. Conter o desmatamento e fortalecer áreas protegidas é essencial, assim como o trabalho de conscientização com as comunidades rurais para promover maior coexistência.
Este artigo foi publicado originalmente pela Permian Global em 14 de maio de 2025. Leia o texto original em inglês aqui.